CAMINHO
DO SERVIÇO SEM EGOÍSMO
Nota
do tradutor para o Português.
O Terceiro canto do Bhagavad-gita trata do serviço devocional prestado em ação,
dito karmayoga. É importante a sua compreensão para afastar as dúvidas que giram
em torno deste importante conceito védico, “karma”, e que tem causado uma certa
confusão na mente dos ocidentais. A palavra “karma”, do sânscrito, significa:
“ação”; “trabalho”; “envolvimento”, etc., e muitas vezes é confundida com uma
lei física de simples causa e efeito, dentro dos conceitos da lei da inércia. A
maior parte do Bhagavad-gita enfatiza a necessidade do envolvimento das ações
conscientes do Supremo – de Krishna – todo o tempo, realizando tudo para a Sua
glória. Quando Sri Krishna declara no final do B.Gita para que Arjuna deixe tudo
por conta d´Ele, compreende-se que toda a ação deve ser feita tendo em vista a
satisfação do Supremo: diz o verso 18.66: sarva-dharmam prarityajya/ mam ekam
saranam vraja – aham tvam sarva-papebhyo/ moksaysyami ma sucah; “Abandona todas
as variedades de dharma (obrigações) e simplesmente se renda a Mim. Eu
libertarei você de todas as reações pecaminosas; não temas”. Na medida em que
Arjuna se rendeu a Krishna, toda e qualquer ação que ele fizesse no campo de
Kuruksetra seria oferecida para Ele, de modo que não cairia em pecado. Krishna
havia dito no verso 11.55, que “mat-karma-krim mat-paramo/ mad-bhaktah sanga
varjitah – nirvairah sarva-bhutesu/ yah sa mam eti pandava”, “Meu estimado
Arjuna, a pessoa que se ocupa em Meu serviço devocional puro – karma-yoga –
livre das contaminações de atividades anteriores e da especulação mental, que é
amigável para com todas as entidades vivas, certamente vem a Mim”. Eis a máxima do Senhor, que dá o provimento,
assistência e proteção ao seu devoto, não precisando deixar a sua vida de
relação para poder amá-lO e servi-lO.
Sem nenhuma dúvida os principais
obstáculos do devoto são a luxúria, os desejos materiais, e os apegos mundanos.
Neste canto o Senhor Krishna instrui Arjuna como controlar e dominar a mente
irrequieta, e alcançar a meta suprema, a liberação do mundo material.
-x-x-
Arjuna
perguntou: se Você diz que adquirir conhecimento é melhor do que agir, então por
que quer que eu me ocupe nesta guerra horrível, Ó Krishna? Parece que Você quer
confundir a minha mente, aparentemente, por palavras conflitantes. Diga-me,
decisivamente, uma coisa pela qual eu possa alcançar o Supremo. (3.01-02)
Arjuna estava no modo da ilusão; ele
acreditava que o Senhor Krishna pensava numa vida contemplativa melhor do que
uma vida de obrigações normais. Algumas pessoas ficam freqüentemente confusas, e
que a salvação é possível somente por uma vida devotada ao estudo das
escrituras, contemplação, e aquisição de autoconhecimento. O Senhor Krishna
esclarece isto pela menção dos dois maiores caminhos da prática espiritual -
dependendo da natureza individual - no seguinte verso:
O
Senhor Krishna disse: neste mundo, através do tempo, Eu tenho declarado um duplo
caminho de disciplina espiritual: o caminho do autoconhecimento para os
contemplativos, e o caminho do trabalho não-egoísta (desapegado) (Seva,
Karmayoga) para todos os outros. (3.03)
“Seva” ou “Karmayoga”, significa sacrifício,
serviço abnegado, trabalho altruísta, ação meritosa, entregar-se, de algum modo,
para os outros. Algumas pessoas,
freqüentemente, ficam confusas como Arjuna, e pensam que levar uma vida devotada
aos estudos das escrituras, e
contemplação, para aquisição de conhecimento transcendental, talvez seja melhor para o progresso
espiritual do que fazer alguma obrigação materialmente.
A pessoa realizada em Deus não a considera a si
própria como a fazedora de qualquer ação, mas somente um instrumento nas mãos do
divino, para Seu uso. Isso favorecerá apontando que ambos conhecimentos,
metafísico e serviço abnegado, possuem a intenção de alcançar o Ser Supremo.
Estes dois caminhos não são separados, mas complementares. Na vida, a combinação
destes dois modos é considerada o melhor. Leve ambos, o serviço abnegado e uma
disciplina espiritual de aquisição de autoconhecimento com você, como citado nos
seguintes versos:
Não se alcança a liberdade do cativeiro do
karma pela simples abstenção do trabalho. Ninguém alcança a perfeição meramente
abandonando o trabalho, porque ninguém pode ficar sem ação, mesmo por um
momento. Tudo no universo é dirigido pela ação – realmente não tem saída – pelas
forças da natureza. (3.043-05)
Não é possível, para qualquer um, abandonar por
completo as ações por pensamento, palavras e obras. Portanto, deve-se sempre
estar ativo em serviço ao Senhor, pelos vários meios que se escolher, e jamais
ficar sem trabalho, porque a mente vazia é a fábrica do diabo. Executar as ações
até a morte, sem o desejo da mente é melhor que abandonar o trabalho e conduzir
a vida como um asceta, mesmo após a realização em Deus, porque mesmo um asceta
não pode fugir da pulsação da ação.
Qualquer um que refreie os sentidos, mas, que
mentalmente pensa nos prazeres sensoriais é chamado de embusteiro. (3.06)
O crescimento de uma pessoa provém do trabalho
generoso, mais que da existência desse trabalho ou da prática do controle dos
sentidos, antes dessa pessoa estar naturalmente pronta para isso. Trazer a mente
sob controle é difícil, e a vida espiritual transforma-se numa zombaria sem
comando sobre os sentidos. Os desejos podem tornar-se dormentes e, então,
voltarem à tona trazendo problemas, como uma pessoa dormindo que acorda devido
ao passar to tempo.
As quarto metas da vida humana – fazer as
obrigações, acumular riquezas, gozo material e sensual, e alcance da salvação –
foram designadas na tradição Védica, para o natural e sistemático crescimento
individual e do progresso da sociedade. O sucesso na vida espiritual não chega
prematuramente vestindo roupas açafrão, por manter um Ashrama ou meio de vida,
sem primeiro conquistar os seis inimigos: luxúria, ira, ambição, orgulho, apego
e inveja. É dito que semelhante embusteiro (que pelo gozo dos sentidos diz os
controlar) faz um grande desserviço para Deus, sociedade e para si mesmo, e
tornar-se privado de felicidade neste e no outro mundo (BP 11.18.40-41). Um
monge fingido é considerado pecaminoso e um destruidor da ordem de vida
ascética.
POR QUE ALGUÉM DEVE SERVIR OS
OUTROS?
Aquele
que controla os sentidos – pela educação e purificação da mente e intelecto – e
que ocupa os órgão e ações ao serviço abnegado é considerado superior.
(3.07)
Execute
suas obrigações porque o trabalhar é, deveras, melhor do que cruzar os braços.
Mesmo a manutenção do seu corpo seria impossível sem trabalho.
(3.08)
Os
seres humanos são limitados pelo trabalho (Karma) que não é realizado como
serviço abnegado (Seva, Yajña). Portanto, torne-se livre do apego egoísta aos
frutos do trabalho, fazendo suas obrigações eficientemente como um serviço para
Deus, para o bem da humanidade. (3.09)
AJUDAR O OUTRO É O PRIMEIRO
MANDAMENTO DO CRIADOR
No começo o criador criou os seres humanos
junto com o serviço privado de egoísmo (serviço generoso ou Seva, Yajna,
sacrifício) e disse: “Pelo serviço de uns aos outros você irá prosperar, e o
serviço sacrifical irá realizar todos os seus desejos. (3.10)
Satisfaça os controladores celestes com serviço
desapegado, e eles irão satisfazer você. Deste modo, um satisfaz o outro, e você
irá alcançar a meta Suprema. (3.11)
Um controlador celeste, ou anjo guardião,
significa um rei sobrenatural, uma pessoa celeste, um anjo, um agente de Deus,
as forças cósmicas que controla, protege e satisfaz os desejos. Mesmo os portões
dos céus estarão fechados para aqueles que tentarem entrar sozinhos. De acordo
com as antigas escrituras a ajuda aos outros é a mais meritosa das ações que
alguém pode fazer. O sábio vê como um serviço a si mesmo o serviço feito aos
outros, enquanto o ignorante serve a si mesmo a custa dos outros. Servir uns aos
outros é o primeiro mandamento do criador, que novamente foi falado pelo Senhor
Krishna no Bhagavad-gita. Deus nos deu dons para ajudar os outros, e servindo
aos outros nós crescemos espiritualmente. Nós nascemos para servir uns aos
outros, para entender, cuidar, amar, dar, e perdoar uns aos outros. De acordo
com Munijii, “Doar é Viver”. Doar torna o mundo um lugar melhor para toda a
humanidade.
Crê-se que o serviço egoísta mina nossa saúde
natural e nosso sistema nervoso também. Quando nós tomamos providência para nos
movermos por nós mesmos a pensar sobre os que precisam dos outros a como podemos
servi-los, a saúde coloca-se em movimento. Isto é especialmente verdadeiro se
nós pessoalmente ajudarmos uma pessoa que talvez jamais a encontremos de novo na
vida.
Os controladores celestes, sendo atendidos e
satisfeitos pelo serviço abnegado, darão a você todos os objetos desejados.
Aquele que goza com os presentes dos controladores celestes sem compartilhar com
os outros é, realmente, um ladrão. (3.12)
Aquele que não realiza sacrifícios, mas que
agarra tudo sem ajudar os outros, é como um ladrão. É dito que os seres celestes
são agradados quando as pessoas ajudam-se uns aos outros. A posição de dar
aumenta a graça de Deus, realizando e concedendo todos os desejos. O espírito de
cooperação – não confrontação ou competição – entre seres humanos, entre nações,
e entre organizações é a dica aqui (neste verso) do Senhor. Todas as
necessidades da vida são sanadas pela dedicação e o sacrifício das outras
pessoas. Nós fomos criados para sermos dependentes uns dos outros. O mundo foi
chamado de uma roda cósmica de ações cooperativas por Swami Chinmaynanda.
Cooperação, não competição, é a causa mais abrangente do progresso individual,
como um bem na sociedade. Nada vale a pena se quer ser alcançado sem a
cooperação e ajuda dos outros. O mundo será um lugar muito melhor se todos os
habitantes cooperarem e se ajudarem uns aos outros. É motivado egoisticamente o
que impede a cooperação, mesmo entre organizações espirituais. Aquele que pode
dizer verdadeiramente: “Todas organizações, templos, mesquitas, e igrejas são
nossas”, é um verdadeiro lidere e um verdadeiro santo.
O justo, que come após compartilhar com os
outros, está livres de todos os pecados, mas, o ímpio, que cozinha o alimento
apenas para si mesmo (sem primeiro oferecer para Deus ou distribuir com os
outros), na verdade, come pecado. (3.13)
Os
alimentos devem ser cozidos para o Senhor e ser primeiro oferecidos para Ele com
amor, antes e durante o consumo. As crianças devem ser educadas a rezar antes de
comerem. A regra do lar deve ser: não comer antes de rezar e agradecer a Deus. O
Senhor promove o estado divino que ajuda aos outros:
Os seres vivos são
sustentados pelos alimentos dos grãos; os grãos são resultados do sacrifício do
trabalho ou da obrigação realizada pelos lavradores e outros trabalhadores do
campo. A responsabilidade está prescrita nas escrituras. As escrituras vêm do
Ser Supremo. Assim, o Ser Supremo, que a tudo penetra, ou Deus, está sempre
presente no serviço livre de egoísmo. (.3.14-15)
Aquele
que não auxilia para manter o movimento circular da criação em movimento, pela
obrigação sacrificial (Seva), e se regozija nos prazeres dos sentidos, tal
pecaminosa pessoa, vive em vão. (3.16)
Um grão de trigo será um simples grão a menos
que ele seja deixado cair dentro da terra e morrer. Se ele morrer então irá
produzir muitos grãos (John 12.24). Santos, árvores, rios e terra são usados
para o uso dos outros. De qualquer forma, não há obrigações para alguém
esclarecido, conforme explicado abaixo:
Para aquele que se regozija apenas com o Ser
Supremo, que se satisfaz com o Ser Supremo, e que está contente apenas com o Ser
Supremo, para tal pessoa auto-realizada não há obrigações. Para tal pessoa não
há interesse, seja qual for, no que fazer ou no que não fazer. Uma pessoa
auto-realizada não depende de ninguém, exceto Deus, para qualquer coisa.
(3.17-18)
Todas as responsabilidades,
obrigações, proibições, regulações e injunções são meios que conduzem à
perfeição. Portanto, um yogi perfeito, que possui autoconhecimento, é
desapegado, não tem nada mais para ganhar deste mundo para realizar obrigações
materiais.
OS LÍDERES DEVEM SERVIR DE
EXEMPLO
Execute
sempre as suas obrigações eficientemente, e sem qualquer apego egoísta, tendo em
vista os resultados, porque por fazer o trabalho sem apegos alcança-se a suprema
meta da vida. (3.19)
Não há outra escritura sagrada, escrita antes
do Bhagavad-gita, que contenha a filosofia do Karmayoga – a devoção altruísta
pelo bem estar da humanidade – sendo tão belamente exposta. O Senhor Krishna
levantou a idéia do altruísmo como a mais elevada forma de adoração e prática
espiritual. Pelo altruísmo, obtêm-se graça, e pela graça recebe-se fé, e pela
fé, a verdade última é revelada. Sente-se imediatamente melhor pela ajuda aos
outros, e chega-se a um passo mais perto da perfeição. Swami Vivekananda disse:
“O Trabalho feito para os outros desperta o sutil e dormente poder divino,
Kundalini, dentro do nosso corpo”. Um exemplo de alcance da auto-realização
pelas pessoas que fazem seus trabalhos obrigacionais é dado a
baixo:
O
rei Janaka, e muitos outros, alcançaram a perfeição da auto-realização apenas
pelos serviço sem egoísmo (Karmayoga). Você também deve executar suas obrigações
com uma visão para guiar as pessoas, e para o bem-estar da sociedade.
(3.20)
Aqueles que realizam o serviço desapegado não
são atados pelo karma e alcançam a salvação (VP 1.22.52). Coisa alguma está
longe de alcançar àquela do que os que possuem os outros como interesse em sua
mente. Swami Harihar disse: “O serviço desapegado para a humanidade é o
verdadeiro serviço para Deus, e a mais elevada forma de adoração”.
Porque não importa o que uma pessoa nobre faz,
os outros a seguem. Quaisquer padrões normais que eles realizam o mundo acompanha.
(3.21)
As pessoas seguem qualquer que seja uma grande
personalidade (BP 5.0412). Jesus disse: “Eu tenho dado um exemplo para vós,
então que vós fazeis o que Eu tenho feito para vós (João, 13.15). Um líder está
obrigado na elevada ética, moral, e padrão espiritual, para a população em geral
de seguidores. Se um líder falha neste cuidado, a qualidade de vida da nação
cai, e o progresso da sociedade é grandemente atrasado. Portanto, os líderes
possuem uma grande carga sob os seus ombros. A vida de um verdadeiro líder é uma
vida de serviço e sacrifício. Uma liderança não deve ser feita como um
empreendimento de tornar-se rico ou famoso.
Ó Arjuna, não há nada nos três mundos – o céu,
a Terra, e as regiões inferiores – que precisa ser feito por Mim, nem há
qualquer coisa que Eu tenha ou não tenha que obter; apesar disto Eu me ocupo em
ação. (3.22)
Se
eu não Me ocupasse em ação rigorosamente, Ó Arjuna, as pessoas iriam seguir o
mesmo caminho em todas as vias. Este mundo pereceria se Eu não trabalhasse, e Eu
seria causa de confusão e destruição. (3.23-24)
O QUE DISTINGUE O SÁBIO DO
IGNORANTE
O ignorante trabalha com apego aos frutos do
resultado do trabalho, por si próprio, e o sábio trabalha sem apego, pelo
bem-estar do mundo. (3.25)
O
sábio não se preocupa, mas, inspira os outros pela realização eficiente de todos
os trabalhos, sem egoísmo e apego; a mente do ignorante está apegada aos frutos
do trabalho. (3.26; veja, também, 3.29)
Fazer
as obrigações sem um motivo egoísta pessoal é um estado exaltado, que é dado
somente para alguém esclarecido. Isto, talvez, esteja além da compreensão das
pessoas comuns.
A
marca do gênio descansa na habilidade de reconhecer as idéias opostas e
paradoxos, assim como em viver no mundo com desapego. A maioria das pessoas
trabalha arduamente quando possuem uma força motivante, como o desfrute dos
frutos do trabalho. Tais pessoas não devem ser desencorajadas ou condenadas.
Elas devem ser lentamente introduzidas nos estágios iniciais do serviço
desapegado. O excessivo apego por posses, não a possessão em si mesma, torna-se
a origem da miséria.
Assim
como devemos rezar e adorar com atenção sincera, similarmente, deve-se realizar
as obrigações materiais com plena atenção, mesmo quando conhecemos muito bem que
o trabalho e seus negócios são transitórios. Deve-se viver pensando somente em
Deus, e não negligenciar as obrigações no mundo. Yogananda disse: “Ser sério na
meditação do mesmo modo como no conseguir dinheiro. Não deve-se viver uma vida
injusta”. A importância do controle dos sentidos e o caminho para combater o ego
é entregue a baixo:
TODOS OS TRABALHOS SÃO
TRABALHOS DA NATUREZA
As
forças da natureza fazem todo o trabalho, mas devido a ilusão uma pessoa
ignorante supõem-se a si mesma como executora. (3.27; veja também 5.09; 13.29 e
14.19)
Indiretamente, Deus é o executor de tudo. O
poder e a vontade de Deus fazem tudo. Ninguém está livre, mesmo para matar a si
próprio. Não se pode sentir a presença de Deus como sentimento o tempo todo de
“Eu sou o executor” (a causa da ação). Se se concretiza que não somos causadores
de nenhuma ação – pela graça de Deus – mas, que somos apenas instrumentos,
tornamo-nos livres. Um cativeiro kármico é criado se nós nos consideramos nós
mesmos os executores e desfrutadores. O mesmo trabalho que é feito por um mestre
realizado e uma pessoa comum produz resultados diferentes. O trabalho que é
realizado por um mestre auto-realizado torna-se espiritualizado e não produz
cativeiro kármico, porque uma pessoa auto-realizada não considera a si mesma o
executor ou o desfrutador. O trabalho que é feito por uma pessoa comum produz
cativeiro kármico.
Aquele que conhece a verdade sobre as regras
das forças da natureza, em receber o trabalho feito, não se torna apegado ao
trabalho. Tal pessoa percebe que isso se deve às forças da natureza, adquiridas
pelo trabalho dele, pelo uso dos seus órgãos e instrumentos. (3.28)
Aqueles que estão iludidos pelo poder ilusório
(Maya) da natureza, tornam-se apegados ao trabalho, feito pelas forças da
natureza. O sábio não de perturba, como a mente do ignorante cujo conhecimento é
imperfeito. (3.29)
A pessoa esclarecida não tenta dissuadir ou
difamar uma pessoa ignorante da realização das ações egoístas, feita por ele,
iludido pelas forças da natureza; porque o fazer o trabalho – e não a renúncia
do trabalho no estágio inicial – no final das contas irá conduzi-los a entender
a verdade de que ´nós não somos os executores’, mas apenas instrumentos divinos.
O trabalhar com apego, também, possui um lugar no desenvolvimento da sociedade e
na vida da pessoa comum. As pessoas podem facilmente transcender os desejos
egoístas por um trabalho por uma nobre meta a sua escolha.
Faças
as suas obrigações prescritas, dedicando todo o trabalho para Deus num estado
espiritual da mente, livre do desejo, apego e tristeza mental. (3.30)
Aqueles que sempre praticam este ensinamento Meu – com fé e
livres de críticas - tornam-se livre do cativeiro do Karma. Mas aqueles que
encontram defeito nestes ensinamentos, e que não praticam isto, são considerados
ignorantes, confusos e estúpidos. (3.31-32)
Todos os seres seguem sua natureza. Mesmo o
sábio atua de acordo com a sua própria natureza. Se nós somos a garantia de
nossa natureza, qual, então, é o mérito do sentido da contenção?
(3.33)
Enquanto nós não conseguimos e não suprimimos
nossas natureza, nos não devemos nos tornar vítimas, mas especialmente
controladores e mestres dos sentidos, pela faculdade descriminativa da vida
humana para aprimoramento gradual. A maior via de controle dos sentidos é o
engajar de todos os nossos sentidos no serviço a Deus.
O MAIOR OBSTÁCULO NO CAMINHO DA
PERFEIÇÃO
O
apegos e aversões pelos objetos dos sentidos permanecem nos sentidos. Não se
deve ficar sobre o controle destes dois, porque eles são os dois maiores
obstáculos, sem dúvida, de alguém no caminho da auto-realização. (3.34)
“Apegos” podem ser definidos como um forte
desejo para experimentar os prazeres sensuais repetidamente. “Aversão”, é uma
forte antipatia pelo que é desagradável. O caminho da paz da mente, conforto e
felicidade, é a base de todo o esforço humano, incluindo a aquisição e
propagação do conhecimento. Desejo – como qualquer outro poder dado pelo Senhor
– não é o problema. Nós podemos ter desejos com o estado de espírito adequado
que nos dará o controle sobre os apegos e aversões. Se nós podemos controlar
nossos desejos a maioria das coisas que possuímos tornam-se dispensáveis; nada
mais do que o essencial. Com uma atitude correta nós podemos obter o controle
sobre todos nossos apegos e aversões. A única coisa necessária é ter um estado
de espírito que torne mais coisas sem necessidade. Aqueles que possuem
conhecimento, desapego e devoção, não possuem qualquer gosto ou desgosto por
qualquer objeto mundano, pessoa, lugar, ou trabalho. Gostos e desgostos pessoais
perturbam a tranqüilidade da mente e tornam-se obstáculos no caminho do
progresso espiritual.
Deve-se atuar com o sentimento de
responsabilidade sem ser governado pelo gosto e desgosto pessoal. O serviço sem
egoísmo é a única austeridade e penitência nesta era, pelo qual qualquer um pode
alcançar Deus enquanto vive e trabalha na sociedade moderna, sem a necessidade
de ir para montanhas e florestas.
Todos se beneficiam se o trabalho é feito para
o Senhor, do mesmo modo como todas as partes de uma árvore recebem água quando
ela é colocada nas raízes, no local onde ela vive. Apegos e aversões são
destruídos numa pessoa nobre, no princípio do autoconhecimento e desapego. Os
amores e desafetos pessoais (gostos e desgostos) são os dois maiores obstáculos
no caminho da perfeição. Aquele que há conquistado os apegos e as aversões
torna-se uma pessoa livre, e alcança a salvação, por fazer suas obrigações
naturais, conforme abaixo:
O trabalho natural inferior é melhor que o
trabalho superior não natural. Mesmo a morte na realização da obrigação
(natural) é proveitosa. Trabalho não natural produz elevada tensão. (3.35 – veja
também 18.47)
Aquele que realiza a sua obrigação ordenado
pela natureza (própria) é liberado dos laços do Karma e lentamente eleva-se do
plano mundano (BP 7.11.32). Aquele que assume uma responsabilidade de um
trabalho que não foi prescrito para ele certamente é um convite para o fracasso.
Deve-se envolver no trabalho melhor adaptado para a própria natureza ou
tendências inatas. Não há ocupação perfeita. Cada ocupação neste mundo possui
alguma falha. Devemos nos manter independentes da preocupação sobre as falhas
das obrigações na vida. Deve-se cuidadosamente estudar a natureza pessoal para
determinar uma ocupação apropriada. O
trabalho conforme a própria natureza não produz tensão e é feito criativamente.
O caminhar árduo, voluntariamente, feito contra as tendências naturais de cada
um não é somente mais estressante mas, também, menos produtivo, e ele não
fornece a oportunidade e tempo livre para o crescimento e desenvolvimento
espiritual. Por outro lado, se alguém segue o caminho fácil ou o caminho
representativo, não será capaz de ganhar o suficiente para satisfazer as
necessidades básicas da (família) vida. Portanto, leve uma vida simples, pela
limitação luxuriosa desnecessária, e desenvolva um hobby do serviço desapegado
para equilibrar a balança material e espiritual necessário na vida.
LUXÚRIA, A ORIGEM DO
PECADO
Arjuna disse: Ó Krishna, o que impele alguém a
cometer pecados ou ações egoístas, mesmo contra a sua vontade, sendo forçada de
novo a querê-los? (3.36)
O
Senhor Krishna disse: é a luxúria, nascida dentre a paixão, que se transforma em
ira quando insatisfeita. A luxúria é insaciável, e é um grande demônio.
Conheça-a como o inimigo. (3.37)
O modo da paixão é a ausência do equilíbrio
mental conduzido pela vigorosa atividade para alcançar os frutos do desejo.
Luxúria, o desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material, é o
produto do modo da paixão. A luxúria torna-se ira se não satisfeita. Quando o
alcançar dos frutos é impedido ou interrompido, o intenso desejo por sua
realização transforma-se em ira feroz. Por conseguinte, o Senhor nos disse que a
luxúria e a ira são dois poderosos inimigos que podem conduzir alguém a cometer
pecados e retirar do caminho da auto-realização, a suprema meta da vida humana.
Atualmente, os desejos materiais compelem uma pessoa para ocupar-se em
atividades pecaminosas. Controle o seu querer, porque seja o que for o que você
quiser exigirá de você. O senhor Buddha disse: “O desejo egoísta é a raiz de
todos os males e misérias”.
Como
o fogo é encoberto pela fumaça, um espelho é encoberto pelo pó, e como um
embrião está encoberto pelo ventre, de forma similar, o autoconhecimento é
encoberto pelos diferentes degraus da luxúria insaciável, a inimiga eterna do
sábio. (3.38-39)
A luxúria e o autoconhecimento são eternos
inimigos. A luxúria somente pode ser destruída pelo autoconhecimento. Onde mora
a luxúria, e como alguém deve controlar os sentidos para subjugar a luxúria, é
dado abaixo:
Os
sentidos, a mente e a inteligência diz-se que são o lugares da luxúria. A
luxúria ilude uma pessoa controlando-lhe os sentidos, a mente, a inteligência, e
velando o autoconhecimento. (3.40)
Portanto,
pelo controle dos sentidos, primeiro mate todos os maldosos desejos materiais
(ou luxúria), que destrói o autoconhecimento e a auto-realização.
(3.41)
O poderoso inimigo, a luxúria, escraviza a
inteligência por usar a mente como seu amigo e os sentidos e os objetos dos
sentidos como seus soldados. Estes soldados mantém a alma individual iludida, e
obscurecem a Verdade Absoluta, como uma parte do drama da vida. O sucesso ou o
fracasso na nossa função, na ação, depende de como nós cuidamos nossas funções
individuais e alcançamos nosso destino.
Todos os desejos não podem – e não precisam –
ser eliminados, mas desejos egoístas, e motivos pessoais egoístas, precisam ser
eliminados para o progresso espiritual. Todas as nossas ações – pelos
pensamentos, palavras e obras – incluindo os desejos, devem ser direcionados
para glorificar a Deus, e para o bem da humanidade. As escrituras dizem: “O
mortal quando se libera do cativeiro dos desejos egoístas torna-se imortal, e
alcança a liberação, mesmo nesta vida (KaU 6.14, BrU 4.04.07).
COMO CONTROLAR A
LUXÚRIA
Os sentidos são superiores ao corpo; a mente é
superior aos sentidos; a inteligência é superior à mente, e o Ser é superior ao intelecto.
(3.42)
Assim, conhecendo o Ser como
o mais alto, e controlando a mente pela inteligência, que é purificada pela
prática espiritual, deve-se matar este poderoso inimigo, luxúria, Ó Arjuna, com
a espada do conhecimento verdadeiro do Ser. (3.43)
O descontrole dos desejos material irão ruir a
linda jornada espiritual da vida. As escrituras fornecem as vias e os meios para
afastar os desejos nascidos na mente, sobre próprio controle. O corpo pode ser
comparado a uma carruagem sob a qual a alma individual – como passageiro,
proprietário e desfrutador – é conduzida numa jornada espiritual em direção a
Morada Suprema do Senhor. Responsabilidade e autoconhecimento são as duas rodas
da carruagem, e, a devoção, o seu eixo. O serviço sem egoísmo é a estrada; as
qualidades divinas são os marcos. As escrituras são as luzes orientadoras que
dissipam a escuridão e a ignorância. Os cinco sentidos são os cavalos desta
carruagem. Os objetos dos sentidos são a grama verde na margem da estrada;
apegos e aversões são os obstáculos; e a luxúria, a ira e a ambição são os
assaltantes. Amigos e parentes são companheiros de viagem a quem nós,
temporariamente, encontramos durante a viagem. A Inteligência é o condutor desta
carruagem. Se a inteligência, o cocheiro da carruagem, não é tornada pura e
forte pelo autoconhecimento e deseja poder, então, fortes desejos sensuais e de
prazeres materiais – ou os sentidos – irão controlar a mente (veja 2.67) no
lugar da inteligência controlá-la. A mente e os sentidos irão atacar e tomar o
controle da inteligência, o fraco cocheiro, e conduzirão o passageiro fora da
meta da salvação, dentro da trincheira da transmigração.
Se a inteligência é bem treinada e purificada
pelo fogo do autoconhecimento e discernimento, ela estará apta para controlar os
cavalos dos sentidos, através da ajuda da prática espiritual e do desapego, as
duas rédeas da mente, e o chicote da conduta moral e das práticas espirituais. O
cocheiro deve manter as rédeas o tempo todo sob seu controle; de outra maneira,
os cavalos dos sentidos irão conduzi-lo para dentro da trincheira da
transmigração (reencarnação). Um único momento de descuido conduz a queda do
caminho. Finalmente, deve-se cruzar o caminho do rio da ilusão (Maya) e, pelo
uso da ponte da meditação, e do repetir silencioso do canto dos nomes do Senhor,
ou um maha mantra*, tranqüilizam as ondas da mente, alcançando a costa do
êxtase. Aqueles que não podem controlar os sentidos não estarão aptos para
alcançar a auto-realização, a meta do nascimento humano.
Não
se deve estragar a si mesmo através dos enganos temporários dos prazeres dos
sentidos. Aquele que controla os sentidos pode controlar o mundo todo, e
alcançar o sucesso em todos os esforços. A paixão não pode ser completamente
eliminada, mas é subjugada pelo autoconhecimento. A inteligência torna-se
poluída durante os anos da juventude, assim como a água clara de um rio torna-se
turva durante a estação das chuvas. Mantenha boas companhias, e coloque uma meta
elevada na vida, prevenindo a mente e a inteligência de serem tentadas pelas
distrações dos prazeres sensuais.
* Nota do tradutor para o
Português: É dito que nesta era de kali-yuga, o maha mantra mais
adequado é o cantar, segundo o Kali-shantarana upanishad, verso 2:
Hare Rama Hare Rama, Rama Rama Hare Hare/ Hare Krishna Hare Krishna, Krishna
Krishna Hare Hare.
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