O Bhagavad-Gita, o som de Deus.
Dr. Ramananda Prasad
(American/ International Gita Society)
Translated in Portuguese
Bhagavad Gita por Ramananda Prasad
© Tradução de Swami Krishnapriyananda Saraswati, (Dr. Olavo O. Desimon).
Direitos autorais de tradução para língua portuguesa inteiramente
reservados ao autor e tradutor. Nenhuma parte desta obra pode ser
copiada sem que o autor e tradutor sejam citados.
A free translation is: Bhagavad-gita by Ramananda Prasad
(c) Copyright translation by Swami Krishnapriyananda Saraswati
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the translator and the author.
Prefácio da edição em português
A presente edição do Dr. Ramananda Prasad, do Bhagavad-gita,
(A canção do Senhor) a qual tenho o privilegio de traduzir para o Português,
trata-se de uma obra feita com o coração puro de um devoto do Senhor. De fato, é
uma verdadeira prasad (restos abençoados pelo Senhor), carinhosamente
posto em forma de palavras para todos nós. Antes de ser um texto pura e
simplesmente baseado numa visão particular, deste grande clássico da literatura
sagrada da Índia védica, trata-se de um “que fazer”, aqui e agora, protagonizado
por esta milenar maravilha que é o Bhagavad-gita. As inquietantes
perguntas que fazemos na maturidade, como bem se refere Sriman Ramananda, sobre
a vida e a morte, estão descritas neste belo texto com uma simplicidade e
profundidade ímpares. Não há dúvidas que o leitor irá se beneficiar, e muito,
com cada uma das instruções dadas pelo divino Mestre, Bhagavan Shri Krishna, no
belo serviço devocional de Sriman Ramananda adhikari.
A Suprema compreensão deste texto é que o mundo, as coisas que nos
rodeiam, nossa própria vida, só tem um destino: o de amar a Deus sobre todas as
coisas; Amor incondicional, sem ter em vista o gozo dos sentidos e o resultado
das nossas ações; trata-se da verdadeira renúncia. A pessoa não precisa deixar
de fazer seus afazeres do dia a dia para tornar-se um devoto de Deus. O próprio
Senhor Krishna diz no Bhagavad gita, 3.9,
yajñaarthaat karmano ´nyatra loko
´yam karma-bandhanah tad-artham karma kaunteya mukta-sangah
samaacara
“A ação deve ser para Vishnu; de outro modo, ficas cativeiro do
karma (da ação) neste mundo, ó Kauteya! A ação
atenta, assim associada, é perfeita, liberando-te”. Se todas as ações forem
feitas tendo em vista a satisfação do Supremo então não haverá mais sofrimento.
Sriman Ramananda traduziu este verso com o seguinte conteúdo: “O seres
humanos ficam atados ao cativeiro do Karma das suas ações, a não ser que aquelas
sejam feitas como um serviço desapegado (Seva, Yajña). Portanto, o
Arjuna, torna-te livre do apego egocêntrico dos frutos do trabalho, faças a tuas
obrigações eficientemente como um serviço para Mim”. Como se percebe, as
ações direcionadas para o Senhor estão livres da reação do karma, de modo
que não é muito difícil entender que a razão do sofrimento está em agir conforme
nossa vontade individual com finalidades egoísticas. Uma vez que entendemos que
o nascimento e a morte são cíclicos, e o resultado do nosso desejo de desfrutar
é a razão de todo o sofrimento, fica-nos muito claro que a livre vontade deve
compreender o amor de Deus como um amor puro e sem causa, deste modo, apenas a
misericórdia do Senhor permanece, e na Sua imensa bondade e beatitude nos
oportuniza o caminho de volta ao Seu aconchego. Viver a consciência pura de Deus
é algo muito prático e aprazível. E uma vez que experimentamos este doce
presente de Deus ficamos maravilhados, na realidade, ficamos embriagados pela
simplicidade em que Ele nos permite amá-lO.
Todos estamos muito felizes em poder compartilhar este belo trabalho
do Dr. Ramanda Prasad, que tem dedicado a sua vida para o serviço devocional ao
Senhor. Como uma prova do seu amor, ele nos concedeu esta bênção, em poder,
agora, divulgar para a comunidade da língua portuguesa no mundo todo, a sua bela
compreensão das palavras do nosso divino mestre.
Todas as glórias ao divino mestre, Shri Krishna, amor puro
personificado, e aqui nestes versos desvelando-se como a misericórdia e a
justiça incarnada de Deus.
Hare Rama, Hare Krsna
Sriman
Ojasvi dasa vyasa (Prof. Dr. Olavo Orlando Desimon) Presidente da Sociedade
da Vida Divina, Brasil.
INTRODUÇÃO
O Gita é uma doutrina sobre a verdade universal. Sua mensagem é
universal, sublime e não-sectária, embora ele seja uma parte da trindade
escritural do Sanathana Dharma, normalmente conhecido como Hinduísmo. O Gita é
muito fácil de ser entendido em qualquer linguagem para uma mente madura. Uma
leitura repetida com fé irá revelar todas as idéias sublimes que ele contém.
Poucos são os aspectos abstrusos, intercalados aqui e ali, mas estes não possuem
influência no problema prático do tema central do Gira. O Gita trata da mais
sagrada ciência metafísica. Ele transmite o conhecimento do Ser e responde a
duas questões universais: Quem sou eu, e como eu posso conduzir uma vida
pacífica e feliz neste mundo de dualidades. Ele é um livro de Yoga, de
crescimento moral e espiritual, para a humanidade baseado nos princípios
cardeais da religião Hindu.
A mensagem do Gita chegou até a humanidade por causa da má vontade de
Arjuna, para cumprir para com o seu dever de guerreiro, uma vez que luta envolve
destruição e morte. Não violência ou Ahimsa é o mais fundamental dos
princípios do Hinduísmo. Toda a vida, humana ou não humana, são sagradas. Este
imortal discurso entre o Senhor Supremo, Krishna, e Seu devoto, Arjuna, ocorreu
não num templo, numa floresta reclusa, ou no alto de uma montanha, mas num campo
de batalha, nas vésperas da guerra, e está escrito no grande épico Mahaabharata.
No Gita, o Senhor Krishna avisa Arjuna para erguer-se e lutar. Isto,
provavelmente, gera um mal-entendido do princípio do Ahimsa, se o fundo da
guerra do Mahabharata não estiver na mente. Portanto, uma breve descrição
histórica está em ordem.
Nos tempos antigos houve um rei com dois filhos, Dhritarashtra e
Pandu. O mais velho nasceu cego, portanto, Pandu herdou o reino. Pandu teve
cinco filhos. Eles foram chamados de Pandavas. Dhritarashtra teve cem filhos.
Eles eram chamados de Kauravas. Duryodhana foi o primogênito dos Kauravas.
Após a morte do rei Pandu, os Pandavas tornaram-se os reis de
direito. Duryodhana foi uma pessoa muito ciumenta. Ele também queria o reino. O
reino foi dividido em duas metades entre os Pandavas e os Kauravas. Duryodhana
não ficou satisfeito com a sua parte do reino. Ele queria o reino inteiro para
si próprio. Ele, de modo mal sucedido, planejou vários crimes para matar os
Pandavas e pegar o reino deles. Ilegalmente ele apoderou-se do reino inteiro dos
Pandavas e recusou-se a devolver mesmo um acre da terra sem a guerra. Toda a
mediação feita pelo Senhor Krishna, e pelos outros, falharam. A grande guerra do
Mahaabharata foi assim inevitável. Os Pandavas foram participantes que não
queriam a guerra. Eles tiveram apenas duas escolhas: lutar pelo seus direitos
conforme a matéria da responsabilidade, ou fugir da guerra e aceitar a derrota
em nome da paz e da não violência. Arjuna, um dos cinco irmãos Pandavas, encarou
o dilema no meio do campo de batalha para lutar ou fugir da guerra pela
segurança da paz.
O dilema de Arjuna é, na realidade, um dilema universal. Cada ser
humano encara dilemas, grandes ou pequenos, em suas vidas diárias, quando
realiza a suas obrigações. O dilema de Arjuna foi o mais importante de todos.
Ele tinha que fazer uma escolha entre lutar a guerra e matar seus mais
reverenciados gurus, seus mais queridos amigos, parentes próximos, e muitos
guerreiros inocentes, ou fugir do campo de batalhas com o objetivo de preservar
a paz e a não-violência. Os setecentos versos, inteiros, do Gita tratam de um
discurso entre o Senhor Krishna e o confuso Arjuna, no campo de batalhas de
Kurukshetra, local próximo a Nova Delhi, na Índia, cerca de 3.100 anos a.n.e.
Este discurso foi narrado para o sábio rei Dhritarashtra pelo seu cocheiro
Sanjaya, como uma testemunha ocular da guerra. O objetivo principal do Gita
é ajudar as pessoas lutando na escuridão da ignorância a cruzarem o oceano da
reencarnação (nascimentos e mortes repetidas), para atingirem a costa espiritual
da liberação enquanto viventes e atuantes na sociedade.
O ensinamento central do Gita é a obtenção da liberdade ou da
alegria, pelo cativeiro da ação da vida de cada um. Sempre se lembrem da glória
e da grandeza do criador e da ação eficiente de seus deveres, sem estar apegados
ou afetados pelos seus resultados, mesmo que a obrigação demande, de vez em
quando, na violência inevitável. Algumas pessoas negligenciam ou desistem de
suas responsabilidades na vida pela segurança de uma vida espiritual enquanto
outras desculpam-se a si mesmos de uma pratica espiritual porque elas crêem que
ela não possuem tempo. A mensagem do Senhor é para purificar todo o processo da
vida em si mesma. Não importa o que uma pessoa faz ou pensa deverá realizar
pensando na glória e na satisfação do Criador. Nenhum esforço ou custo é
necessário para este processo. Faça as suas obrigações como um serviço para o
Senhor e humanidade, e veja um único Deus em tudo, num estado de espírito. É
necessário purificar o corpo, a mente e o intelecto, para conquistar um estado
de espírito, disciplina pessoal, austeridade, penitência, boa conduta, serviço
desapegado, práticas yóguicas, meditação, adoração, oração, rituais, e estudo
das escrituras, assim como a companhia de pessoa santas, peregrinação, canto dos
santos nomes do Senhor, e auto-inquirição. Através do intelecto purificado
deve-se estudar para abandonar a luxúria, a ira, a avareza, e estabelecer o
controle sobre os seis sentidos (audição, tato, visão, gustação, olfato e
mente). Deve-se sempre lembrar de que todos os trabalhos são feitos pela energia
da natureza, e que ele o ela não são os agentes mas apenas um instrumento.
Deve-se aspirar o máximo de excelência em todas as tarefas, mas mantendo-se a
equanimidade no sucesso ou no fracasso, no ganho ou na perda, na dor ou no
prazer.
A ignorância do conhecimento metafísico é para a humanidade um grande
predicamento. Uma escritura, sendo a voz da transcendência, não pode ser
traduzida. A linguagem é incapaz e as traduções são defeituosas para claramente
transmitir o conhecimento do Absoluto. E nesta tradução, uma tentativa foi feita
para manter o estilo mais próximo possível para a poesia original do Sânscrito,
e com isso tornar fácil a leitura e o entendimento. Uma tentativa há sido feita
para aprimorar a claridade pela adição de palavras ou frases, entre parênteses,
na tradução dos versos. Um glossário e índice há sido incluído. Cento e trinta e
três (133) versos chaves estão impressos em negrito para a comodidade dos
iniciantes. Nós sugerimos a todos os nossos leitores para refletirem,
contemplarem, e agirem de acordo com estes versos. Os principiantes e os
ocupados executivos poderão primeiro ler e entender o significado destes versos
chaves antes de se aprofundarem no profundo oceano do conhecimento
transcendental do Gita.
De acordo com as escrituras, não tem pecado, horrível que seja, que
possa comover aquele que lê, pondera e pratica os ensinamentos do Gita; por mais
que a água atinja a pétala do lótus (isso porque o lótus está por sobre o lodo;
mesmo assim é belo e gracioso). O Senhor em Si mesmo, reside onde o Gita está, é
lido, cantado ou ensinado. O Gita é conhecimento Supremo, e o som personificado
do Eterno e Absoluto. Aquele que o lê, pondera, e pratica os ensinamentos do
Gita com fé e devoção irá obter Moksha (ou Nirvana), pela graça de
Deus.
Este livro é
dedicado para todos os gurus de quem as bênçãos, graça e ensinamentos são
inestimáveis. Ele é oferecido ao grande guru, Senhor Krishna, com amor e
devoção. Que o Senhor aceite-o, e abençoe aqueles que repetidamente lerem-no com
paz, felicidade, e o verdadeiro conhecimento do Ser.
OM TAT
SAT
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AiU
Aitareya Upanishad
AV
Atharvaveda
BP
Bhagavata Maha Purana
BrU
Brihadaranyaka Upanishad
BS
BrahmaSutra
ChU
Chaandogya Upanishad
DB
Devi Bhagavatam
IsU Ishavasya Upanishad
KaU Katha Upanishad
KeU Kena Upanishad
MaU Mandukya Upanishad
MB Mahabharata
MS Manu Smriti
MuU Mundaka Upanishad
NBS Narada BhaktiSutra
PrU Prashna Upanishad
PYS Patanjali YogaSutra
RV Rigveda
SBS Shandilya BhaktiSutra
ShU Shvetashvatara
Upanishad
SV Samaveda
TaU Taittiriya Upanishad
TR Tulasi Ramayana
VP Vishnu Purana
VR Valmiki Ramayanam
YV Yajurveda, Vajasaneyi
Samhita
Tradução de Sriman Ojasvi dasa
vyasa
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